quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quando a verdade liberta e o vidro se quebra para sempre - Parte I

“Milena, você conhece a mulher do Alan?”

Foi assim, como essa pergunta no mínimo intrigante, que a Larissa, que não falava comigo no MSN há meses, resolveu puxar conversa. Sim, claro que eu conhecia a esposa do Alan e diálogos hostis pontuados de ameaças não haviam faltado entre nós duas. Na verdade, poucos foram os diálogos, pois ela me intimidava tanto que eu me limitava a ouvir os desaforos quieta. Mas, obviamente, eu não podia entregar tudo de bandeja e me limitei a responder: “Sim, conheço de vista.” Ao que Larissa me respondeu:

“Na boa, acho que ela é maluca.”

Maluca por quê? Bom, a história da Larissa foi a seguinte: por ter sido vista uma vez na praça conversando com Alan e por ter tido um contato unicamente profissional com ele por telefone, a louca cismara com ela, passando a persegui-la. Pura loucura, claro, pois Larissa era muito bem casada, com dois filhos pequenos e jamais tivera relacionamento algum fora do casamento. Larissa perdera a paz e já havia emagrecido 5 quilos, pois Lúcia estava ligando para ela de madrugada ("anonimamente", é claro), prometendo que contaria tudo para o marido dela, que arrancaria sua roupa na praça e gritaria para todo mundo ouvir que ela tinha um caso com o Alan. Larissa foi obrigada a mudar de celular, mas nem assim a perseguição teve fim. Ela justificou o fato de ter me procurado para conversar sobre isso porque sabia dos boatos que diziam que eu havia passado pelo mesmo problema no ano anterior. Essa foi a história inicial, que eu aceitei prontamente como verdadeira.

Na verdade, "prontamente" não seria bem o termo. Fiquei um pouco desconfiada e não abri imediatamente a minha situação, deixei tudo no terreno dos boatos, afirmando que eu e Alan apenas tínhamos uma amizade, e que o ciúme da Lúcia era infundado. Só aos poucos, quando fui confiando na Larissa, contei toda a verdade para ela.


Apesar de não confiar imediatamente nela, fiquei muito indignada com tudo, afinal, sempre gostei muito da Larissa, a considerava elegante e discreta, achava sua família linda e feliz, e muito me desagradou saber que ela estava sendo ameaçada – tal como ocorrera comigo. Mas, no meu caso, eu havia terminado meu noivado, era solteira, minha família sabia do meu rolo e, portanto, eu não tinha muito a perder. É bem verdade que mudei de emprego por conta do transtorno, pois Lúcia ligava anonimamente para o meu chefe falando horrores de mim, mas a mudança acabou sendo positiva, pois me adaptei bem no novo empego e fiz amizades ótimas. No caso da Larissa, a repercussão seria diferente. Imagina se o marido dela fica sabendo? E os filhos pequenos, o que iriam pensar? Do alto da minha boa-fé, me senti profundamente solidária ao que ela estava passando.

Quem começou a decifrar que a história não era bem assim foi a minha psicóloga: “Como é o Alan, Milena? Ele é sedutor, certo? Quem garante que o casamento da Larissa é mesmo feliz? Acho muito improvável que eles não tenham tido nada.” Foi só quando a minha psicóloga descortinou essa possibilidade diante de mim que senti uma pontinha de ciúmes. Afinal, o provável caso da Larissa com o Alan estava ocorrendo paralelamente aos meus últimos e esparsos encontros com ele.

[continua]

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