segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Myrna escreve


Mas, por enquanto, o que existe, multiplicado por não sei quanto, é o namorado ou noivo ou esposo desinteressante. Chegamos, então, a um ponto crucial: que deve fazer a mulher de um cidadão nessas condições? Antes de mais nada, não nos cabe nem o direito de desejar que o chamado homem desinteressante desapareça. Porque assitiríamos a um espetáculo tenebroso; ou seja: o súbito despovoamento do mundo. Logo, ele deve sobreviver. E as mulheres são obrigadas a apelar para esse tipo de homem, porque o outro quase não existe.

*****************************************************

Pode ser triste a solidão. Mas pior que ela, muito pior, é a companhia que não nos interessa, que não preenche o vazio de nossa vida, que só nos irrita e nos desespera.

*****************************************************

"Defeitos não interessam" - dirá alguém. Ao que eu responderei: se são do ser amado, passam a interessar, ou antes, passam a ser admitidos. Uma das características da mulher que ama é aceitar todas as falhas da criatura amada. Quando não aceita mais, deixou de amar. Ao passo que absolve um homem de todos os defeitos, se gosta dele, abomina as suas virtudes, se não gosta.

*****************************************************

Em amor não há definitivo. Assim como não há conquistas definitivas, também não há derrotas irremediáveis. Quem perdeu ontem, pode ganhar hoje; e quem ganhou ontem, se não tomar cuidado, perde hoje.

*****************************************************

Nunca se esqueça do seguinte: em amor, ninguém tem o direito de exigir nada. O único direito que se tem é o de aceitar aquilo que a outra pessoa dá de todo o coração e com o máximo de espontaneidade.

*****************************************************

Vejamos o começo da história: - Stella viu, certa vez, um rapaz nem bonito, nem feio, que ela achou deslumbrante. Até aí, nada demais. O mau gosto em amor é necessário e natural. Se não fosse esse mau gosto, muitas vezes hediondo, 97 por cento dos homens, 97 por cento das mulheres ficariam a ver navios, sem possibilidade de matrimônio.

*****************************************************

De onde resultam as tragédias amorosas? Resultam, precisamente, do fato de que ninguém escolhe certo, mas escolhe, quase sempre, errado. Vou mais longe: a gente não escolhe nem certo, nem errado: a gente não escolhe. Gostamos e deixamos de gostar, por uma série de fatores estranhos à nossa vontade.

*****************************************************

Em amor, automóvel, beleza, saúde pouco significam ou não significam nada, se a mulher não gostar do cidadão.

*****************************************************

A mulher, ou o homem, também gosta do amor infeliz, também precisa do amor infeliz, também o defende e o preserva.

*****************************************************

Em amor, o que importa é o próprio amor,e não a circunstância eventual e problemática da retribuição.

*****************************************************

Pouco influi que um homem esteja presente, ausente ou morto. Influi, sim, este fato: ele é, ou foi, o único, entre tantos, que revelou conosco uma série de secretas e vitais afinidades. Ausentou-se ou morreu; mas nenhum outro consegue preencher o claro aberto em nossa vida. Que fazer? Aceitar qualquer um, ou o melhorzinho dos partidos existentes, ou esperar que apareça outro que possa substituir integralmente o bem-amado? Esperar, mesmo em vão, parece-me ser a atitude mais inteligente. É, pelo menos, uma maneira de evitar uma catástrofe sentimental. Entre substituir mal, e não substituir, a melhor solução será sempre a última.

*****************************************************

"Não presta!" Digamos que não preste. Mas você gosta dele! Se você gosta, apesar disso, chegamos à conclusão de que, em amor, não importa o valor moral do homem.

*****************************************************

Que fazer? Nesta situação, você sentiu a necessidade de conselhos. Surge, então, uma amiga. Ah! Cuidado com as amigas! O amor de uma mulher, quase sempre, faz mal à outra, sobretudo se esta não teve ou não tem um sentimento parecido. A coisa mais fácil e comum do mundo é uma amiga sugerir que acabemos com os nossos romances. Uma amiga é intransigente, feroz, agressiva. Opina: "Eu não aturaria isso!" Aturaria, sim. Aturaria isso e coisas piores. Mas, como se trata de uma felicidade alheia, ela se enche de coragem, de fúria, de implacabilidade. Por exemplo: que lhe disse a sua amiga? Que você esquecesse! Imagine, esquecer! Em primeiro lugar, ninguém esquece, porque assim o deseje. A memória não depende, nem da nossa vontade, nem dos conselhos e pontos de vista de nossas amigas. Se levamos, pela vida, tristíssimas lembranças, é porque não as conseguimos eliminar! E, de resto, será sempre uma desgraça, para quem ama, esquecer. Ninguém pode,e, mais do que isso, ninguém deve esquecer um grande amor ou uma criatura amada. Não importa que a pessoa amada não nos corresponda: se é amada basta. O simples fato de pensar em alguém, com amor, significa uma felicidade.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Conspiração universal contra a minha pessoa

Há exatos 8 dias ameacei: "vou sair com trezentas pessoas a partir de hoje". Claro que foi um exagero, apenas quis dizer que ia deixar de me fechar para o mundo e tantar me interessar por alguém. No entanto, ainda não saí com uma pessoa sequer. E não foi por falta de tentativa.

Toda mulher tem um homem no stand by, que só é mantido nessa situação por ser absolutamente desinteressante - tão desinteressante, que os meses passam e ele continua solteiro. Tenho uma pessoa nessa condição, o Gabriel, com quem saí umas quatro ou cinco vezes. Nos primeiros encontros, não rolou nada, mas a certa altura comecei a ficar com pena e acabei beijando. Não foram mais que dois beijos, mas foi o suficiente para ele me dar uma caixa de ferrero rocher, um Cd gospel que nunca ouvi, falar de mim para a mãe dele e enviar torpedos apaixonados. A gota d'água foi quando entrei na internet e vi uma foto minha na janelinha do MSN dele. Imediatamente, esclareci a situação, disse que ele estava se precipitando e que não iríamos mais sair.

Embora eu não goste de homens atenciosos demais, não foi isso que me afastou dele. O problema é que a pessoa em questão tem uma enorme barriga, e barriga é coisa que só tolero em homens com mais de 40 anos. Tive várias crises de consciência, afinal, um ser humano não é só uma barriga e as pessoas valem por aquilo que têm dentro delas. A aparência não pode ser fator determinante para um julgamento. Senti-me preconceituosa e conversei com algumas pessoas. Todas disseram que não se tratava de preconceito, apenas de gosto pessoal. O fato é que eu jamais conseguiria transar com alguém com uma barriga enorme e, se os encontros continuassem, fatalmente chegaria a hora de transar.

Passou-se o tempo e eu voltei a ser amante do Alan. Mas, depois que eu mandei ele se fuder, tomar no cu e outros bichos, resolvi sair com esse cara mesmo. Desbloqueei Gabriel do MSN e sugeri que podíamos tomar um chopp, mas ele argumentou que estava sem dinheiro. Era uma indicação de que minha empreitada de sair com trezentas pessoas estava fadada ao fracasso.

Virei a página e resolvi fazer um perfil de orkut para galinhar. Mas só me apareceu gente chata. Depois, resolvi sair com alguém de fato atraente. O problema é que as pessoas que eu considero atraentes têm em média 17 anos e, portanto, são proibidas. Um deles, no entanto, deixou de ser proibido quando fez 18 anos. Conversei com ele sobre nosso "assunto pendente" - por "assunto pendente", entenda-se, um encontro que ele quis marcar mês passado e que eu declinei por ter vontado a me encontrar com Alan. Marcamos o encontro para terça-feira às 19h, ele me levaria ao apartamento que ele usa como "matadouro". Resultado? Às 19:20 ele ainda não havia aparecido no local combinado e eu voltei pra casa. Por sorte o local era muito próximo da minha casa e o encontro frustrado não me causou maiores transtornos.

A desculpa veio em seguida: ele acordou muito, muito doente. Mas, por que ele não me avisou que ia furar se tinha meu telefone, meu msn, meu email? Passadas algumas horas, comeceu a ficar com raiva, mas não desse guri, e sim do Alan. Por que absolutamente nenhuma das minhas tentativas de me desvencilhar emocionalmente deste homem que já é de outra dá certo??? É claro que eu não ia me apaixonar por um cara de 18 anos, mas o fato de transar com alguém que eu considero lindo pelo menos me distrairia um pouco. Não resta dúvidas: há uma conspiração universal contra a minha pessoa.

Bom, se nenhuma tentativa de sair com outra pessoa dá certo, deve haver uma explicação, daquelas de fundo espiritual, que põe a culpa no destino. Confesso que já pensei nisso, mas o pior é que nem isso é. Já consultei malandros, pomba-giras, baralho cigano, psicografias e sempre saí frustrada com as revelações que me foram feitas. A pior de todas foi quando um cigano de sotaque quase incompreensível me pediu para embaralhar as cartas e disse que eu ia começar a gostar do Mauro (aquele do estupro consentido por sete meses seguidos - veja arquivo do blog), que ele iria ficar muito tempo na minha vida e que eu iria ter filhos com ele. A minha cara de decepção ao ouvir isso deve ter sido interessante de se ver. Nem o mundo espiritual me dá esperanças de que eu e Alan podemos ficar juntos. Para evitar ouvir coisas desse tipo, fujo das religiões afro-brasileiras que nem o diabo foge da cruz. Agora, só vou à missa.

Afinal, o que a vida quer de mim? Por que só gosta de mim gente que eu não considero atraente? E por que só me interesso por pessoas de faixa etária comprometedora? Que conspiração é essa que existe contra mim? Qual é o caminho que me levará a esquecer o Alan de vez? Provavelmente, o da solidão. Humpff.

domingo, 23 de agosto de 2009

Em cara de homem não se bate!

Havia entre os dois um contraste flagrante e até espetacular. Rosinha, cheia de corpo, de vitalidade, com uma exuberância de modos e de palavras quase inconvenientes; Arturzinho, de uma polidez, de uma cerimônia que só vendo. Foi talvez a própria força do contraste que os aproximou. [...]

Dois dias depois, combinaram um cinema na sessão das seis. Acontece, porém, que quando ia saindo do Itamaraty, foi chamado ao gabinete do chefe. Demorou-se lá e, quando, por fim, apareceu na porta do cinema, Rosinha o esperava já há quarenta minutos, debaixo de chuva. A pequena fez um escândalo:

- Você fez comigo um papel de moleque. [...] Quer ver como lhe meto a mão na cara, aqui, na frente dessa gente toda?

Lívido, balbuciou: - “Quero”. Então, diante dos curiosos, que acompanhavam o incidente, Rosinha deu-lhe uma bofetada, uma bofetada de estalo, como no teatro. Em seguida, deixou-o plantado à boca da bilheteria e afastou-se, precipitadamente.

Chegando em casa, ela conta o episódio de rua. O pai, que acabara de chegar, passa-lhe um pito:

- Isso não se faz, não está direito. Vou te dizer uma coisa, minha filha: - na cara de homem não se bate! (Nelson Rodriges. Humilhação de homem. In: "A coroa de orquídeas e outos contos e A vida como ela é...")


Nada mais teatral do que uma mulher que vira a mão na cara de um homem em público. Lendo o conto acima transcrito, lembrei-me de dois momentos nos quais tive essa atitude. Acho que também houve um terceiro, mas não me lembro bem.

Aos 17 anos, em plena Quinta da Boa Vista, dei um super tapa na cara do Luís, que nem meu namorado era. Nós saíamos de vez em quando, sem regularidade nenhuma e, aos 22 anos, ele era o maior mulherengo que o céu cobria. Eu, totalmente imbecil, saída de um relacionamento sem graça, era completamente apaixonada por ele. "Vamos namorar, Lúis? " , eu sugeria; "Tá maluca, Milena?", ele respondia. Até que um dia, a verdade é dita sem máscaras: " Milena, você sabe que só fico com você por ficar, não sinto nada por você." Vem a reação: dou um tapa estalado no rosto dele, que não reaje, não esbraveja nem fica violento. Claro que ele censurou minha postura, mas isso não o impediu de dizer na despedida: " se quiser sair de novo, me liga."

O segundo tapa, como não podia deixar de ser, foi na cara do Alan. Era uma noite como as outras, ele voltava do trabalho e ia passar na minha casa. Telefonou pra dizer que estava a caminho e pediu que eu o encontrasse na rua. Atendi o pedido e o encontri na praça. Ele, carinhosíssimo, veio logo me beijar, o que não era do seu feitio. Muito teatral, Alan sempre vinha me ver com uma cara de sofrimento de quem carrega o mundo nas costas. Lamentava-se horrores de sua vida e só depois relaxava. Mas, naquela noite, ele vinha feliz e empolgado, porque Helena estava esquematizando uma ida ao teatro e ele queria que eu fosse junto com o grupo. Mudei imediatamente de humor, pois sofria de uma ciúme justificadíssimo daquela pessoa. Subimos a rua juntos e eu disse: "não vou a teatro nenhum com essa mulher". Ele, rebateu: "se você não for, também não vou". Aparentemente, o assunto morreu, mas não a minha cólera. Já sentados na portaria do meu prédio, a pretexto não sei de que, vem minha reação, presenciada por duas pessoas que passavam pela rua: um sonoro tapa na cara dele. Ele levanta, sente dor, não sabe o que fazer. Diz que se viesse mais um tapa na sequencia, ele cairia. Arrependo-me instantaneamente. Ele diz que vai embora, eu o seguro, com toda a fragilidade de uma pessoa de 50 kg e ele, inexplicavelmente, não se desvencilha e se deixa ficar. Vinga-se de mim em seguida: " Quer saber, tive um caso com a Helena sim, agora terminei e ela fica atrás de mim cobrando, você inclusive já presenciou algumas cenas." Fico totalmente atordoada: "Mas como, se você sempre disse que fui sua primeira amante? Seu mentiroso desgraçado!" Ele, então, tenta consertar: "É mentira, só falei isso pra te fazer sofrer e me vingar do que você fez. Nunca tive caso nenhum com a Helena, olha bem pra mim e vê se tenho cara de ter um caso com a Helena!"

Já sem me importar muito com a verdade, vou com a Alan para a garagem. Começa uma briga, a pretexto de um dilema no trabalho. Ele começa a se expressar aos brados, que são ouvidos por todo o prédio. Triunfante, vira as costas e vai embora.

Subo e mal entro em casa, vem minha mãe brigar: "O que esse cara estava gritando? Na garage, ainda por cima! Já não falei que não quero vocês dois na garagem?" Explico partes da situação e falo do tapa. Tudo muda, e a raiva da minha mãe, que se pudesse faria Alan sumir da face da Terra, se transforma em uma leve simpatia. E a frase que ela me diz é a mesma dita pelo personagem de Nelson Rodrigues: "Milena, em cara de homem não se bate! Você tá louca? O cara já é todo problemático e você faz isso?" A culpa, que já me devorava, invade as profundezas do meu ser.
_____________________________________________________________________________________

Voltando ao texto de Nelson Rodrigues, eis a reação de Arturzinho após ser agredido na porta no cinema:

No dia seguinte, pela manhã, bate o telefone. Era Arturzinho. Antes de dizer “bom dia”, começa:
- Meu bem, estou telefonando para te pedir desculpas.
Era demais. Rosinha pula:
- Como pedir desculpas? Você apanha na cara e ainda pede desculpas?
Ele gagueja:
- Eu te fiz esperar, e...
Rosinha corta novamente: “Pelo amor de Deus, Arturzinho! Não me peça desculpas. Sou eu que vou te pedir, eu! Andei mal, mas você pode ficar certo de que nunca mais, ouviu?” Do outro lado da linha, o pobre-diabo insiste: - “Quer dizer que você não está mais zangada?” Rosinha perdeu a paciência:
- Quem deve estar zangado é você, e não eu!


Que reação se deve esperar de um homem que apanha na cara? No mínimo, que se chateie muitíssimo. Se a reação de Arturzinho causa surpresa e vai contra a ideia de que em cara de homem não se bate, eu garanto que a reação do Alan foi mais rodrigueana que a dos próprios personagens de Nelson.

Primeiro, Alan se surpreende e finge tentar ir embora; depois, faz uma revelação bombástica, para em seguida desmentir; a vingança parece pouca e, não se dando por satisfeito, grita pra dar vazão à raiva; por fim, tem uma saída teatral.

Mas, isso não é tudo. Na mesma noite, conversamos pela internet e eu não sabia o que fazer para ele me desculpar. Ele responde: "quem disse que tô chateado? pelo contrário, me senti mais teu depois daquele tapa." No encontro seguinte, ele vai além: "se dentro de três dias não tiver outro tapa daquele, tá tudo acabado entre a gente."

Até hoje, quando ele apronta das suas e depois reconhece a besteira que fez, ele pede: "anda, me dá um tapa, eu mereço porque te maltratei". Eu, naturalmente, me recuso. Quando está empolgado, pensando em sexo, ele diz: "quero apanhar de você, na cara."

Agora me digam, quem é mais rodrigueano? Os personagens Arturzinho e Rosinha, criados pelo próprio Nelson, ou duas figuras da vida real, Milena e Alan? Este é sem dúvida um dos casos em que a realidade parece mais ficcional que a própria ficção.

sábado, 22 de agosto de 2009

"Ele não gosta de você!"

"Milena, ele não gosta de você." Quantas vezes Aline me disse essa frase? Uma, talvez duas vezes. Isso foi em 2004, se não me engano. E até hoje não esqueço essas palavras.

Minha amizade com Aline surgiu do nada, na aula de Teoria da Literatura. Eu já fazia faculdade, mas resolvi começar uma segunda, por puro lazer. E assim, auxiliada pelas constantes greves nas universidades públicas, comecei a faculdade de Letras à noite, sem que a jornada dupla jamais me atrapalhasse.

Aline, por alguma dessas razões difíceis de compreender, recusava-se terminantemente a comprar livros de ficção. O professor havia exigido a turma a leitura de "A mentira", de Nelson Rodrigues e eu fiquei radiante, pois naquela época já havia lido alguma coisa de Nelson e jamais tinha ouvido falar no livro "A mentira". Comprei o livro, li com rapidez, reli e sublinhei várias passagens. Era a primeira aula que Aline assistia e, mesmo sem nunca ter me visto, puxou assunto e pediu meu livro emprestado.. Esquecendo completamente a máxima que diz que "quando alguém empresta umlivro há dois idiotas: o que empresta e o que devolve", confiei naquela completa desconhecida. Ela não só me devolveu o livro como ainda pediu ajuda para fazer o trabalho. Daí surgiu uma grande, embora efêmera, amizade. Impossível não amar alguém que te devolve um livro e ainda troca ideias sobre a leitura depois.

Embora eu estivesse totalmente desgostosa da faculdade que fazia de manhã, sempre tive a certeza que não seguiria nenhuma carreira relacionada a Letras. De manhã, eu frequentava as aulas com uma preguiça impressionante, chegava atrasadíssima sem cerimônia nenhuma, em certo período cheguei ao cúmulo de fazer apenas 3 matérias, obtendo um rendimento medíocre. Ainda assim, não estaca disposta a largar esse curso que tanto me aborrecia. A faculdade de Letras era lazer, a outra era obrigação. Como para compensar o balde que eu não tinha coragem de chutar de manhã, chutei o balde à noite: fiz um período apenas e larguei a faculdade de Letras, sem nem me dar ao trabalho de trancar a matrícula. Depois, me arrependi, e com uma facilidade impressionante, quase sem burocracia, reabri a matrícula. Reencontrei a Aline no corredor e a amizade foi reatada prontamente, embora não fizéssemos mais matérias juntas. Já as outras pessoas, que antes eram do meu gripo, tornaram-se completas desconhecidas. Fiz mais um período, comecei o terceiro e sumi novamente. A amizade com Aline acabou ali, apesar de alguns telefonemas meus que ela jamais retornou. Desisti de tentar contato, mas sinto muito sua falta.

Certa vez, ocorre a tragédia: André termina tudo comigo. E por um daqueles motivos que seria preferível não saber: se apaixonara por outra. Eu, que sequer havia percebido qualquer mudança em seu comportamento, fiquei abaladíssima. Tanta dedicação para nada! Quantas vezes deixei de lado minhasobrigações para ajudá-lo a estudar para o vestibular, quanto do meu tempo empreguei procurando questões de todas as disciplinas para ajudá-lo! Mas, como veio o fracasso, meu esforço foi facilmente esquecido. O desempenho dele foi tão pífio que nem na faculdade particular mais vagabunda ele poderia entrar. "Me deidquei tanto para levar um pé na bunda", era só o que eu conseguia pensar. Hoje, entendo perfeitamente a situação, ela não era obrigado a ficar comigo apenas por gratidão.

Mas, naquela época, tudo que eu não consegui ser foi uma pessoa centrada. Bolava as estratégias mais absurdas para André voltar comigo. Como a menina pela qual ele estava apaixonado o dispensou sem dó nem piedade, achei que era questão de tempo voltarmos a namorar. Mas tudo que eu conseguia com minhas tentativas de reaproximação era irritá-lo. E foi no momento em que descrevi uma das grosserias de André que Aline disse: "Milena, ele não gosta de você!"

Do alto de sua autoridade de quem vivia um namoro feliz e sem sobressaltos, Aline estava certíssima. André reatou comigo depois de alguns meses e, passada a euforia inicial, eu mesma fui aos poucos percebendo que nada tínhamos a verum com o outro. Depois de dois anos eu mesma terminei, sem que ele esboçasse qualquer protesto. Hoje, não resta qualquer tipo de afeição entre nós, nem amizade.

Se Aline ainda fosse minha amiga, o que ela diria sobre Alan? A mesmíssima coisa que dizia sobre André: "Milena, ele não gosta de você". Cada vez que Alan apronta das suas, só consigo me lembrar dessa frase. Talvez, com uma correção: "Milena, ele não gosta de você e tão pouco você dele. O que existe é obsessão. Você não aceita é ser rejeitada."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Pelo buraco da fechadura: o fascínio de Nelson Rodrigues

Ah... meus 21 anos... eu frequentava a faculdade (que na época odiava) e vivia com um livro de ficção debaixo do braço. Não, eu não fazia "leitura axilar", como meu professor orientador descreveu, a título de brincadeira, a postura de um aluno que andava pra cima e pra baixo com um livro, sem jamais abri-lo. Eu lia mesmo, e nenhuma das leituras era condizente com o curso que eu fazia. Na verdade, não é que não fossem condizentes, pois qualquer leitura sempre nos enriquece, mas os textos acadêmicos que eu xerocava sempre mereceram menos atenção que a ficção. Houve uma fase em que me fascinei por Lima Barreto; em outro momento, inspirada pelo samba da Unidos da Tijuca de 2001, intitulado "A Unidos da Tijuca apresenta Nelson Rodrigues pelo buraco da fechadura", cismei que era um absurdo jamais ter lido nada de tão conhecido escritor. E, por sorte, algo se comemorava em relação a ele e a Companhia das Letras estava lançando inúmeros textos de Nelson, com capas belíssimas. Sim, sou o tipo de leitora que adora uma bela capa. Certa vez, pedi para o meu pai comprar um livro do Graciliano Ramos e destaquei: "compra o da capa mais bonita", pois na época a editora Record estava lançando edições bem caprichadas das obras de Graciliano. Não adiantou nada o aviso e meu pai veio com uma capa bem acabadinha, o que me fez pensar que ele recorreu a algum sebo para adquirir o livro "Insônia". Em 2007, quando fui à bienal do livro com a minha amiga, sempre que eu me deparava com um livro que eu já tinha, comentava: "eu tenho, mas a minha capa é mais bonita"; ou, então, me lamentava: "aaaahhh! essa capa é mais bonita do que a da minha edição!"

Não sei precisar se aos 21 anos eu lia Nelson Rodrigues com uma ótica muito diferente da que leio hoje. Mas, uma coisa eu lembro: naquela época, jamais dei uma risada lendo os contos de "A vida como ela é". Hoje, eu simplesmente morro de rir de algumas cenas. Uma coisa que adoro é quando, antes de descrever algo inusitado, o narrador diz: "certa vez, foi até interessante" - que humor pode existir em uma expressão como essa, não sei, é coisa do meu cérebro.

Outro aspecto que me chama atenção é a teatralidade absurda que Nelson coloca em seus textos. Seus personagens quase sempre apresentam reações exageradas, entram em desespero, pensam em meter uma bala na cabeça, em matar alguém, se expressam aos brados, abusam das interjeições. Isso dá uma certa comicidade às tramas, pelo menos na minha ótica.Há também oscilações, sem lugar para meio-termo. Ou seus personagens vivem lutos severíssimos diante de algum falecimento ou ignoram por completo a situação, considerando que aquela morte veio a calhar, tomando-a como ponto de partida para a felicidade.

Outra coisa que adoro são as expressões que aparecem nos textos de Nelson: "é espeto!", "ora pipocas!" ,"que mágica besta!", "natural!", "dinheiro, mulher e outros bichos", "é golpe!" , "sacode o braço até as nuvens", "bate o telefone", "vamos e venhamos", "compreendeu?", "batata!", "você iria num lugar assim, assim...", "temia mais o jugamento da vizinha do que o juízo final", "que esperança!" , "caiu das nuvens"... são tantas as expressões que nem sei qual é a minha preferida.

No próximo post, sem qualquer intenção de imitar o misnovels.blogspot.com, pretendo analisar um ou outro conto de "A vida como ela é". Afinal, quase todos são condizentes com o tema desse blog.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Decepção de número 31.456.789



Quantas vezes uma pessoa pode nos decepcionar? Até 7 vezes? Não, muito mais do que isso, tem gente que é capaz de nos decepcionar 70 vezes 7. Desculpe parafrasear a bíblia em um blog que versa basicamente sobre a prática do adultério, mas cada vez que me decepciono só consigo me lembrar dessa passagem do evangelho. Na verdade, a passagem em questão diz que devemos perdoar 70 vezes 7; logo, deduzo que se eu continuo me decepcionando com a mesma pessoa, apesar de todos os absurdos que ela já fez, é sinal que perdoei todas as mancadas anteriores, pois cada novo fato me choca como se os anteriores não tivessem existido. Pois bem, quem sabe essa minha capacidade absurda de perdoar não me garanta uma vaguinha fora do inferno?

A última decepção foi ontem, em uma conversa de internet. Sempre tivemos uma relação super aberta, onde tudo é permitido, onde podemos falar as coisas mais loucas que passam pela nossa cabeça com a certeza de que o outro não se choca com nada. Mas, ultimamente, esse tipo de relação não está servindo mais pra mim. Uma coisa que me irrita é quando ele fala de outras mulheres, que fulana é gostosa, que fulana é maravilhosa, que não-sei-quem que estava no metrô tem uma bunda enorme... porra, pra que me falar isso? Se o objetivo é me irritar, parabéns, porque ele consegue. Nunca tive a pretensão que meus namorados fossem cegos para a beleza de outras mulheres, mas uma coisa é admirar e fantasiar, a outra é me contar.

Outra mania irritante do Alan é me rifar. Não foram poucas as vezes que ele quis me jogar para outros homens, mas ontem isso atingiu as raias do absurdo. Temos um conhecido em comum, adolescente, meio maluquinho, evangélico fanático e chato pra cacete, mas Alan simplesmente adora esse cara. Uma das maiores distrações do Alan é ficar debochando da cara desse garoto porque ele é virgem. Ontem, Alan sugeriu que eu poderia tirar a virgindade dele e perguntou quanto eu cobraria. Resolvi dar corda e disse que cobraria 350 reais. Alan falou que me daria 500 e disse que ia querer assistir.

Não brigamos imediatamente, mas fiquei bem aborrecida. Depois, o assunto mudou para nossos gostos musicais, e eu comentei de funk, pagode e mpb - ritmos que o Alan não curte, pois só gosta de música internacional. Ele começou a falar que odiava funk e eu disse: "eu gosto de funk mesmo e foda-se quem não gosta". Ele ficou puto da vida e saiu intempestivamente da internet. Mas, como ele está com o péssimo costume de entrar invisível, eu não sabia se ele estava realmente off ou se ainda estava lá.

Nossa, eu fiquei com uma sensação péssima após a conversa, fiquei com muita raiva e ao mesmo tempo triste pela forma que ele me trata. No fundo, ele me vê como uma subclasse de pessoa que não merece respeito, em uma categoria abaixo da prostituta. Não é porque não me envergonho dos meus desejos e tenho desenvoltura para lidar com o sexo oposto que mereço ser desvalorizada. Chorei, fiquei nervosa, quase tive um treco, não consegui dormir, enfim, tive uma reação que daria inveja às reações que Nelson Rodrigues imaginava para seus personagens de "A vida como ela é". Mandei um email super agressivo, já que ele estava off e eu precisava esculhambar com ele de alguma forma. Eis o conteúdo:

"Alan, tô muito decepcionada com vc, é incrível como entre nós dois é sempre a mesma coisa que se repete: num dia estamos bem, no outro vc me deixa puta. Quer saber, certo estava o ---- que falou que vc não me leva a sério. Cansei disso. Ainda me deixa falando sozinha na porra da internet. Vai tomar no cu e esquece que eu existo. Vou sair com trezentas pessoas a partir de hoje, não é possível que nenhum deles me ineteresse de alguma forma. Cansei de me fechar pro mundo por sua causa. Você não merece um pingo da minha consideração. Vai se fuder."

Gente, desculpe, mas estou desbocada mesmo. Tem horas que só asssim conseguimos desabafar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Confusão de sentimentos 2


Parece irônico que a vida mude tão rapidamente. Ontem mesmo eu estava feliz, apesar de ter um relacionamento meio torto, senti que realmente estava bem e perfeitamente adaptada à realidade possível de ser vivida. Mas de uma hora para outra, tudo mudou.

E o pior é que não sei o que mudou. É estranho, mas o período diurno é difícil pra mim. Não me sinto bem, o dia se arrasta sem que eu faça nada de útil e quando converso com ele à tarde não é a mesma coisa. Não sei precisar há quanto tempo comecei a funcionar melhor à noite, mas só depois das 18h começo a me animar, estudo e consigo produzir. Não é à toa que optei por trabalhar à noite. E é à noite também que bate a saudade e que sinto necessidade de conversar com ele. Mas à tarde, não é assim.

Alan tem dois empregos e às vezes consegue usar a internet no trabalho. Ele tem me avisado um dia antes que estará on line por volta das 15h e, seu eu estiver em casa, fico on line também. Ele não muda seu comportamento, continua falando as mesmas bobagens e às vezes até algo de útil, ele continua carinhoso igualzinho ele é á noite. Mas eu, sei lá, não sei o que sinto quando converso com ele à tarde. Depois que a conversa termina, fico me culpando por não ter sido carinhosa. Da última vez que isso aconteceu, mandei um email todo fofinho para compensar minha indiferença. Dessa vez, pensei em fazer o mesmo, mas não fiz. E o pior que tudo isso é coisa da minha cabeça, ele nem deve mais estar lembrando disso, para ele, foi uma conversa como as aoutras.

Fiquei pensando: será que o amo mesmo? será que só estou nessa por orgulho e desejo de disputá-lo com a esposa? o que de fato eu sinto por ele? Quando o vejo, não tenho dúvidas de que o amo muito, basta olhar pro rostinho dele e já fico toda derretida. Mas quando estou longe, não sei mais. Talvez meu sentimento seja vício e não amor. Ou talvez as duas coisas.

Na tentativa de colocar meus sentimentos em ordem, pensei em ficar ausente da internet por uns dias, até ter minha consulta sábado com a psicóloga (sim, eu faço terapia). Mas não sei se vou conseguir. Sempre fica aquela necessidade de dizer a ele alguma coisa. Quando não queremos mais alguma coisa, basta tomarmos a atitude. Se não queremos mais falar com a pessoa via MSN, basta não falar e pronto. Mas meu cérebro doentio tem a necessidade de dizer: "olha só, a partir de hoje não falaremos mais no MSN." Atitude ridícula, pois entrar no MSN pra dizer que não se pretende mais falar no MSN já denuncia que nossa intenção não é verdadeira. Ao dizer isso a alguém, estamos esperando que a pessoa negocie e nos faça desistir da decisão. Meu amigo passou por uma situação semelhante quando sua ficante ligou pra dizer que eles não podiam mais falar ao telefone. Oras, eu uso o telefone pra dizer a alguém que não podemos mais falar ao telefone ... Não seria mais lógico simplesmente não ligar mais? É óbvio que essa menina voltou a ligar pra ele. Sua decisão não era verdadeira.

Tudo isso me faz lembrar a passagem de um livro, que diz: "Já que me faz mal, nunca mais hei de fumar, mas antes disso quero fazê-lo pela última vez." (Italo Svevo. A consciência de Zeno, p. 12) Zeno não quer realmente se livrar do cigarro, pois se quisesse simplesmente jogava o maço fora e pronto, mesmo que no dia seguinte ele não suportasse a abstinência e comprasse outro. Mas, para se livrar do vício, ele sente que precisa exprimentá-lo ainda uma vez - e logicamente, nunca é a última vez. Essa atitude do personagem-narrador é muito semelhante à minha: não quero mais falar com ele pela internet, mas entro na internet "pela última vez"; mão quero mais encontrá-lo, mas preciso ir ao encontro, nem que seja para dizer isso ... e assim, o relacionamento já se arrasta por dois anos, já terminamos umas 3.567.892 vezes, mas se hoje decidimos que vamos nos afastar, amanhã já estamos conversando novamente. E assim, nunca sou levada a sério, cada vez que digo que vou me afastar ele diz: "vamos ver por quanto tempo". Minhas palavras não tem mais credibilidade.

Chegou a hora da atitude. Simplesmente não entrar mais no MSN e pronto. Sumir, nem que seja por uns 3, 4 dias (sim, temos que estabelecer metas possíveis de serem cumpridas, nada de sumir pra sempre, pois é impossível nesse momento). Mas o fato é que preciso agir sem dar maiores explicações. Será que vou conseguir? Ou melhor, será que realmente estou dispota a tentar?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Toda amante é infeliz?

É lugar-comum imaginar que toda amante é infeliz. E, de fato, a maioria que está nessa situação se lamenta com pequenas coisas, sofrendo por não poder telefonar a hora que bem entender e se torturando ao imaginar o dia-a-dia de casado de seu amor. Sem medo de errar, posso dizer: não sou infeliz por estar nessa situação.

Meu relacionamento tem uma dinâmica bem peculiar. Há meses abolimos os telefonemas e não sentimos a menor falta disso. Nosso contato se dá unicamente via internet e está de bom tamanho. Também já me habituei ao jeito dele, que de vez em quando some por 4 dias, às vezes uma semana, mas depois reaparece como se a ausência não tivesse existido. Os sumiços já me fizeram sofrer, mas hoje, não mais.

Algumas amantes se lamentam por não poder tornar o relacionamento público, mas isso também não me faz falta. Ao menos semanalmente, temos nos encontrado e sempre vamos embora de mãos dadas. Só não me esqueço totalmente que o relacionamento é clandestino porque tenho pavor da esposa dele.

Quanto a imaginar seu dia-a-dia de casado, isso também não me incomoda. Sequer me torturo imaginando que ele transa com a esposa. Como todo homem casado que arranja namoradinha fora de casa, ele diz que não mantém mais relações sexuais com ela. Há pouco tempo ele me disse: "Você não vai ficar chateada? A última vez que transei com ela foi no carnaval." Por que ficaria chateada? Se ele é casado, tem que transar com ela, oras!

Tenho um amigo que diz que eu preciso resolver essa situação. Mas que situação existe para ser resolvida? Tudo está muito bem arrumado: ele fala comigo todo dia, me trata bem, é carinhoso (embora ele tire alguns dias para me irritar), me vê com certa frequencia. O que mais posso querer? Ele volta pra casa e não sofro com isso; eu paro numa cafeteria pra comer bolo, faço escova, chego em casa e vou cuidar das minhas leituras. Após o encontro, a vida de cada um segue na mais perfeita paz. Garanto que minha situação está melhor do que muito namoro por aí. Seu eu fosse a titular, talvez não estivesse tão feliz, pois já o conheço e sei que ele não gosta de ir ao cinema, de sair pra comer uma pizza, de tomar sorvete... ele gosta de ficar o tempo todo dentro de casa. Eu seria uma namorada muito irritada cobrando sempre uma atitude que ele não é capaz de tomar. Como amante, não pressiono em nada e não incomodo sua vida com cobranças.

Enfim, não tem nada pra ser resolvido. Está tudo ótimo assim.

PS: Sim, eu e Alan voltamos a nos ver. Já faz algumas semanas que nossos contatos deixaram de ser apenas virtuais. Teria o nome do blog "Amores desfeitos" ficado inadequado? Talvez apenas temporariamente...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ser humano, frágil ou forte?

O ser humano é frágil ou forte? Até pouco tempo, eu nem pensaria muito para responder essa pergunta. Diria que o ser humano é frágil como um castelo de areia e que qualquer coisa é capaz de derrubá-lo: o fim de um namoro, a perda de um emprego, o falecimento de uma pessoa querida e até mesmo coisas corriqueiras, como quando planeja-se algo e este algo sai completamente ao contrário do esperado. Frustração, depressão, lágrimas, sensação de que está no fundo do poço - absolutamente qualquer coisa é capaz de despertar estes sentimentos no ser humano.

Até que um belo dia eu estava na varanda de casa observando a rua. Aqui no meu prédio estava rolando uma obra na garagem e um senhor extremamente magro começou a levar o entulho pra fora do prédio, colocá-lo em um carrinho de mão e, com a ajuda de outro senhor, empurrá-lo em direção a algum lugar. Este senhor repetiu o processo umas três vezes, tudo isso com um cigarro na boca. Estranho como às vezes nos sensibilizamos com cenas aparentemente insignificantes. Fiquei totalmente impressionada com aquilo, como podia uma pessoa tão frágil estar empenhada em um serviço tão pesado? Naturalmente, ele precisava da grana e não podia se dar ao luxo de passar o dia na pracinha jogando cartas e conversando sobre o resultado do jogo do bicho. E, impelido pela necessidade, aquele senhor demonstrava para quem quisesse ver que era frágil só na aparência. Ele tinha muita força dentro de si.

Na varanda de uma rua residencial de subúrbio, pode-se ver muita coisa. E uma coisa que sempre vejo é o César, um senhor igualmente magro que já é figura conhecida de todos, pois vive bêbado. Seja qual for a hora do dia, lá vai ele pela rua cambalendo, de vez em quando está caído na calçada vivenciando algo parecido com um coma alcoólico. Dado o estilo de vida que César adota desde que eu me entendo por gente, é praticamente um milagre que esteja vivo. A longevidade de uma pessoa que leva uma vida totalmente anti-saudável é mais uma prova de que o corpo humano é forte pra caramba.

Falemos agora do cigarro. Há milhares de substâncias tóxicas no cigarro, mas uma pessoa é capaz de fumar por décadas sem apresentar qualquer doença. Como o corpo humano pode processar tanta coisa ruim que o fumante coloca pra dentro de si? Mistério. Certa vez, assisti um programa de madrugada na televisão que tinha por objetivo dar um sermão nos fumantes. Foi mostrado uma senhora de 90 anos, agonizando na cama e agarrada a um maço de cigarros. A neta filmou tudo, pois queria que o drama da avó servisse de alerta para quem fuma. Mas, pensemos bem, essa senhora fumava desde criança, chegou a 10 maços por dia (o que acho meio inacreditável) e chegou aos 90 anos!!! A morte chegou porque estava na hora de chegar, até que ponto o cigarro teve culpa disso?

Até aqui, só citei exemplos que comprovam que o corpo humano é resistente do ponto de vista físico. Mas, e do ponto de vista emocional? Do ponto de vista emocional, também. Quando meu avô faleceu, todo mundo apostou que minha avó morreria em seguida, pois não aguentaria o baque. Pois bem, já se passaram mais de dez anos e minha avó está aí até hoje, fazendo tudo que fazia antes e exercendo inúmeras tarefas na igreja. Um caso famoso, o do falecimento da menina Isabela Nardoni, também demonstra a força do ser humano: "mãe de Isabela vive um dia de cada vez", era a machete de um portal de informações da internet. Sim, ela sofre e vive um dia de cada vez, mas está aí vivendo.

É certo que a religião serve de conforto e ajuda na superação do trauma da morte. Tente consolar alguém que perde um ente querido sem falar de Deus, sem falar que sua alma está em um lugar bom e que, de onde está, o falecido sabe do amor dos que ficaram e que gostaria de ver todos bem. É impossível.

Eu mesma sou um exemplo de que o ser humano é forte. Sofro de depressão desde os 17 anos. Uma vez, parei de comer, pois queria definhar até morrer. Cheguei aos 47 quilos, mas meu organismo não se conformou com aquilo e comecei a ter dores horríveis de estômago, que me obrigaram a comer. Mesmo em um ser depressivo, o corpo humano quer viver e tira forças de onde não tem para dar a volta por cima.

Meu ponto fraco é a vida amorosa - que por sinal, é um fiasco. Quem acreditaria que uma pessoa depressiva, que pensava em suicídio o tempo todo, superaria o trauma emocional que passei em 2008? Eu era amante, vi Alan sair da casa da esposa com absolutamente tudo que era dele, me tornei a oficial por alguns meses, planejei uma vida maravilhosa com ele. De repente, vi Alan dar pra trás, voltar pra casa e terminar tudo comigo ... terrível! Mas, mesmo sendo depressiva e tendo desabado com a situação, continuei indo trabalhar, saindo pra comer no Spoleto e ouvindo a MPB que tanto amo. No meio de uma tempestade, continuei mantendo meus pequenos hábitos e aí, de vez em quando, até me surpreendo quando percebo que estou feliz.

Sim, o ser humano é forte. Ele tem suas fragilidades, é claro, mas não se conforma com elas e traça estratégias para viver o máximo de tempo possível. A dor é causada pela morte de alguém? Simples, creia no mundo espiritual. A dor é o fim de um relacionamento? Calma, se ele terminou com você, é porque não te merecia! Distraia a cabeça e logo você viverá um novo amor! Você é depressivo? Procure um psiquiatra que um remédio tarja-preta resolve. O psiquiatra não resolveu? Fume um cigarrinho e seu cérebro ganhará novo estímulo. Cigarro é leve demais pra vc? Compre drogas ilícitas. Sim, são soluções que detonam a saúde (ou não, dependendo do organismo), mas a longo prazo. A curto prazo, vamos vivendo, e sempre procurando um alento para evitar soluções mais radicais, como um tiro na cabeça.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Recaída e volta por cima



Nossa, quanto tempo não escrevo aqui !! Estou sem tempo para escrever crônicas e a criatividade não está sendo das melhores... além disso, não estou triste, (descobri que a nicotina é a grande responsável pelo meu bom estado de espírito) e minha principal inspiração é justamente o sofrimento, então estou no aguardo de uma nova crise depressiva para escrever mais uma crônica... rs ... quem sabe uns dois dias sem fumar resolvam esse "problema".

Bom, meus 4 leitores, acho que não é novidade para vocês, mas eu tive uma recaída. Estava tentando nunca mais falar com Alan e após três meses de sucesso na empreitada, sucumbi e enviei um email para ele. Qual não foi minha surpresa quando ele respondeu quase de imediato. Achei estranho, pois meus sonhos sempre me diziam que minhas tentativas de reaproximação seriam infrutíferas, pois ele me ignoraria.

Foi tudo maravilhoso por um breve período: começamos com aquela história de sermos amigos, mas logo estávamos recordando o passado, ele ficou carinhoso, mandou emails espontaneamente, elaborou declarações de amor fofas, mandou uma imagem do Frajola com flores na mão e tantas outras ... mas ai, começou a insatisfação. Sim, por que, de que adianta alguém dizer que te ama, que não consegue te esquecer, que pensa em você o tempo todo mas, apesar disso, optar pelo afastamento? E foi isso que aconteceu: ele ficava plenamente satisfeito com os contatos virtuais e nem cogitava a hipótese de um encontro - o que é totalmente injustificável, considerando-se que ele mora a duas ruas da minha.

No dia 20 de junho (sábado), ele estava apaixonadíssimo, e até tocou no assunto do divórcio - coisa que eu nem cobrava dele, por saber que ele é totalmente inapto para tal. E essa paixonite toda me irritou. Me ama? Então demonstra! Mais atitudes e menos palavras! Quando fui cobrar isso dele, acabou-se tudo (mais uma vez). Ele me excluiu do msn, e quando me deparei com a ausência do nome dele na minha lista, entrei em desespero. Chorei o dia todo. Não fui trabalhar. E como o cérebro humano é doentio, tive a necessidade de escrever-lhe um email de despedida, ao qual naturalmente ele não irá responder. Mas, passado o nervosismo, e com a ajuda da minha amiga, agora já estou bem.

Um amor como esse, que se satisfaz com recordações do passado e com projeções para o futuro que jamais se concretizarão, eu dispenso. Resta saber por quando tempo pensarei assim.

sábado, 6 de junho de 2009

Confusão de sentimentos

4 horas da manhã. Insônia. Confusão de pensamentos. O que eu sinto de fato pelo Alan? Não sei porque essa dúvida me atormenta, afinal não o vejo há meses. Nunca nos cruzamos pelo bairro, apesar de morarmos perto. Mas comecei a ter medo de cruzar com ele e não sentir nada. Mas, por que medo? Não seria uma coisa boa constatar que não sinto mais nada por ele? Esses meses todos de sofrimento teriam sido por amor ou eu apenas me apeguei a uma lembrança? Usei como pretexto os relacionamentos desagradáveis em que me meti para confirmar que ele era meu amor verdadeiro, que eu jamais conseguiria esquecê-lo. Me apeguei ao não-concretizado para fantasiar um relacionamento que possivelmente seria desastroso, mas que eu só conseguia imaginar que seria maravilhoso. Viagens que planejamos e não fizemos, locais aos quais nunca fomos juntos, o sorvete que nunca tomamos em dia de calor, os filmes que nunca assistimos no cinema. Continuo passando pelas mesmas ruas que passei com ele de mãos dadas, mas agora passo sozinha, e todos os locais já estão revestidos de outros significados. Não sofro mais como antes, mas queria sofrer. É como se fosse uma coisa legal ter um grande amor não-concretizado me marcando eternamente. Mas não vai marcar eternamente. Já não sinto mais a mesma coisa.

Se eu falasse com ele, como seria? O que ele teria a me dizer além de manifestar sua atração física mal disfarçada por frases de efeito que sugerem algum sentimento? Quanto tempo duraria a fase carinhosa antes que ele voltasse a ser o mesmo grosso de sempre? Se voltarmos a ter contato, ele vai dizer que logo vai dar um jeito de me ver, mas sei que esse "logo" nunca vai chegar. E se esse "logo" chegasse, será que seria bom? Ou eu só constataria que não sinto mais a mesma coisa? Que pra mim ele é indiferente e tudo que ele tem a dizer é insignificante? Pra que constatar isso?

Será que é hora de seguir em frente? O que eu sinto por ele? Confusa, muito confusa...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Analisando a música "Nada por mim"

Você me tem fácil demais
Mas não parece capaz
De cuidar do que possui
Você sorriu e me propôs
Que eu te deixasse em paz
Me disse vai e eu não fui

Não faça assim
Não faça nada por mim
Não vá pensando que eu sou seu

Você me diz o que fazer
Mas não procura entender
Que eu faço só pra te agradar
Me diz até o que vestir
Com quem andar e aonde ir
Mas não me pede pra voltar



Tanta gente já gravou essa música que fica difícil saber quem a compôs. O verso "não vá pensando que eu sou seu" até sugere que ela foi composta por um homem, mas todos os demais elementos da canção formam um típico discurso feminino. Vou, então, admitir que se trata de uma canção que, se não foi feita por uma mulher, foi escrita para que uma mulher cantasse. A seguir, comentarei alguns versos.

Você me tem fácil demais, mas não parece capaz de cuidar do que possui: dizer que uma mulher é fácil é o mesmo que dizer que qualquer um que se aproxime tem chances de ter com ela um contato mais íntimo. Mais do que isso, a mulher fácil sequer espera que o homem se aproxime e já parte para o ataque. Mas esse não é o sentido na canção. Ser fácil demais, nesse caso, é o mesmo que deixar totalmente explícita a paixonite que se sente pelo outro. E pouco importa que o outro não saiba cuidar do que possui, pois mesmo que ele seja um estúpido na maior parte do tempo, a mínima demonstração de carinho apaga o histórico de grosserias. Mostrar-se "fácil demais" sempre foi desaconselhado pelos mais antigos, que afirmam que homens gostam de desafios e se desinteressam quando percebem que não precisam se esforçar muito para conquistar alguém. Essa idéia pode até ser ultrapassada, mas ser "fácil demais" é realmente uma desvantagem, pois dá ao outro a segurança de que todo tipo de comportamento desagradável será tolerado. E, de fato, quando um homem percebe isso, ele não hesita em te magoar, pois sabe que você não hesitará em perdoá-lo.

Você sorriu e me propôs que eu te deixasse em paz [...] Me diz até o que vestir , com quem andar e aonde ir, mas não me pede pra voltar: estes versos descrevem uma situação que os mais antigos chamariam de "não trepa nem sai de cima". Temos uma mulher que não esconde sua paixonite e um homem que, apesar de não esconder sua indiferença, alimenta deliberadamente os sentimentos dela. Ele propõe que ela o deixe em paz, mas diz isso sorrindo, o que tira a carga negativa de suas palavras e dá a impressão de que está apenas brincando. Outras atitudes, como opinar sobre suas roupas, companhias e lugares que ela deve ou não frequentar dão a ilusão de que ele se preocupa com ela, e quando estamos apaixonadas nos prendemos mais aos detalhes que sugerem pequenos sentimentos do que às evidências de que a pessoa não nos ama.

Não vá pensando que eu sou seu: e tem como ele pensar diferente??

Você me diz o que fazer, mas não procura entender que eu faço só pra te agradar: Se ele lhe diz o que fazer, é porque o que ela faz para agradá-lo não é suficiente, ou quem sabe até gere o efeito contrário. Nestes versos, fica claro que fazer tudo para agradar não ajuda a conquistar alguém que não está interessado, sendo tão infrutífero quanto ser fácil demais. E, de fato, é irritante quando alguém que a gente não gosta insiste em forçar afinidades. Tais situações já aconteceram comigo: ele nunca tinha lido na vida, mas como sabia que eu gostava de leituras, começou a ler também; ele trabalhava na área da informática e zerava nas provas de Historia quando estava no colégio, mas de uma hora pra outra ficou louco pra conhecer as cidades históricas de Minas. Enfim, pensando em agradar, o outro perde a espontaneidade e torna-se desinteressante.

**********************************************

É triste viver a situação descrita na música. Eu já vivi, e acredito que muita gente já viveu. Quando amamos de verdade, não bolamos estratégias, não paramos pra pensar que devemos ocultar nossos sentimentos, que devemos preservar a auto estima, que devemos pular fora ao identificar a ausência de amor da outra parte. Nos apegamos aos detalhes mais insignificantes que podem simbolizar algum sentimento e ignoramos as evidências de que o único sentimento que existe é o nosso. Mas não somos totalmente culpados disso, muitas vezes o outro alimenta nossos sentimentos só pelo prazer de se sentir desejado e de ter alguém na "reserva". Não é ser fácil demais nem fazer tudo pra agradar que mina nossas chances de ter um relacionamento com alguém que não nos ama, pois mesmo que não fizéssemos nada disso, o resultado seria o mesmo.

sábado, 23 de maio de 2009

Datas comemorativas

Natal. Dia das mães. Dia dos Pais. Dia dos Namorados. Para quem sofre, nada mais cruel do que datas comemorativas. Do natal, não temos muito como fugir, pois os shoppings fazem decorações caprichadas, as pessoas começam a montar árvores de natal, algumas enfeitam suas varandas com lâmpadas coloridas e quase todas as religiões realizam cerimônias especiais. A noite do dia 24 de dezembro se reveste de um aspecto diferente e isso machuca especialmente aqueles que têm uma família esfacelada, seja por brigas ou por falecimentos recentes. A ceia é montada para seguir um protocolo, se revestindo de um aspecto melancólico.

É verdade que o natal movimenta muito dinheiro mas, em se tratando do nascimento de Jesus Cristo, que grande parte do mundo aceita como filho de Deus, a pertinência da data está mais do que justif
icada. Mas, e as demais datas, que sentimento realmente nobre existe por trás delas? Quase sempre somos lembrados delas por comerciais de televisão que têm em vista tão-somente aumentar as vendas do comércio. Em alguns bairros do subúrbio do Rio de Janeiro, os políticos confeccionam faixas com dizeres do tipo "Mãe, parabéns pelo seu dia" e as colocam nas praças, com o único interesse de serem lembrados pelos eleitores. Imagine como sofre alguém que perdeu sua mãe, ou que nunca a conheceu, quando o segundo domingo de maio se aproxima e os comerciais de TV mostram filhos abraçados com as mães. A data deve ser ainda mais cruel para a mulher que não pode ter filhos e para a mãe que tem filhos falecidos e que os viu morrer ainda na infância. Há também que se considerar o sofrimento de uma criança que perdeu a mãe e que vai ter que entregar para outra figura feminina a lembrancinha que confeccionou na escola. O mesmo se pode dizer do dia dos pais. Os vizinhos organizam barulhentos almoços de família, fazem churrasco e ouvem música alta, alguns entram em seus carros com a família e saem para comer, mesmo sabendo que encontrarão filas nos restaurantes. Alguém que perdeu o pai, ou um pai que perdeu o filho, deve sofrer muito com o clima diferente que envolve o segundo domingo de agosto e fatalmente deve pensar: "por que todos são felizes e só eu não?"

Diante do sofrimento que datas como dia das mães e dia dos pais podem gerar, o sofrimento gerado pelo dia dos namorados parece fútil. Mas ele existe. Alguém que ainda ama o ex-namorado, mas foi trocada por outra, seguramente sente como se levasse uma facada no peito cada vez que passa por um vitrine decorada com ursos e corações de pelúcia com dizeres românticos. Não ter para quem comprar um presente no dia 12 de junho só não é mais triste do que saber que a pessoa que você ama vai presentear outra e esquematizar uma noite romântica com ela.

Diante da euforia da maioria, o sofrimento da minoria passa despercebido. Quem está apaixonada pelo namorado e vai
poder presenteá-lo e passar a data ao lado dele sequer pensa no sofrimento de alguém que não vai poder viver o mesmo. E o pior, quem está feliz no relacionamento chega mesmo a ignorar que tudo pode mudar de uma hora para a outra. Mas, como diz a música, pra que chamar a dor antes de acontecer?

Quando datas comemorativas se aproximam, que opção resta para quem sofre? Desabafar com alguém está fora de cogitação, pois não é justo estragar a felicidade alheia. Sair de casa pode ser especialmente cruel, mas ficar em casa também não é muito diferente, pois a televisão rememora a aproximação da data fatídica e a internet também. Seguramente, muito sofrimento invisível se mistura à euforia dos corredores lotados dos shoppings e muitos travesseiros são a única testemunha das lágrimas verti
das pelos olhos de quem se sente sozinho.


Shopping na época de natal: vincular datas comemorativas à aquisição de mercadorias estimula o consumismo de quem está feliz ou anestesia quem está infeliz?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Carta não enviada

Quanto tempo sem saber de você, como você estará? Fico imaginando se você continua tendo gosto musical duvidoso e ouvindo cds do New Order, se está tomando direitinho seus remédios de pressão alta, se ainda se entope de Diazepan e se ainda pede um Dorflex pra qualquer um que se aproxime de você.

Será que você continua nervosinho e arranjando briga por aí? Será que ainda dorme de madrugada assistindo TV por assinatura? Será que continua adorando filmes de guerra e assistindo regularmente "Falcão negro em perigo" ? Será que ainda tem o péssimo hábito de desligar o telefone na cara das pessoas quando se irrita?

Quantas vezes você terá feito aquela carinha fofa e perguntado "sério mesmo?" ao ouvir alguma história que te causa surpresa? Você continua usando a expressão "por certo" e dizendo "pegou sorte" ao invés de "deu sorte"? Será que ainda faz aquelas piadinhas idiotas e repetitivas? Quantas vezes terá contado novamente a história de quando você e seu amigo estavam na Mesbla e um coroa, interessado porque vocês estavam fardados, mandou beijinhos para vocês, despertando a ira do seu amigo?

Será que você ainda se masturba 5 vezes ao dia vendo filme pornô escondido da Lúcia? Será que ainda olha para a bunda das mulheres para examinar o tamanho da calcinha? Com quantas mulheres você já ficou depois de mim?

Você ainda lembra de mim? Sente saudades das nossas conversas de madrugada e dos links que te mandava por email? É provável que não. Mas, infelizmente, sinto sua falta. Ainda te amo e, mesmo com todos esses defeitos, ficaria com você exatamente do jeito que você é.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Manual do encontro arranjado

Defino como encontro arranjado aquele no qual você não estava muito a fim de ir. É quando você decide dar uma chance àquele amigo que já está há meses tentando ter algo a mais com você ou quando, após algumas horas de garimpo em salas de bate-papo, você encontra alguém que se destaca dos demais por ser minimamente interessante. O encontro arranjado geralmente tem como objetivo preencher o vazio que outra pessoa deixou, mas como não há a menor chance de reatar com ela, a única coisa que resta é partir pra outra. Encontros arranjados geralmente são infrutíferos, mas volta e meia insistimos neles. Vejamos os principais passos:

1- Sorria.

Para não ficar tão óbvio que aquele encontro não representa muito para você, não se atrase. Tais encontros geralmente ocorrem no shopping ou em um barzinho, pois a falta de intimidade não permite marcar em outro lugar. Se ainda não o conhecemos pessoalmente, apenas pela internet, tendemos a ficar atentos a todo homem que aparece. Se o cara é bonito, pensamos: "bem que podia ser ele"; se é feio e mal vestido, pensamos: "tomara que não seja ele". Quando finalmente ele chega, não desperta nenhuma reação específica: não sentimos repulsa, mas também não sentimos atração. No entanto, devemos demonstrar empolgação e sorrir. Os cariocas cumprimentam com dois beijinhos.

2- Demonstre interesse na conversa.

Nada mais desagradável do que o silêncio no primeiro encontro. Procure puxar assunto, mostrando interesse em tudo que ele diz. A profissão dele pode ser a mais desinteressante possível, mas devemos dizer que achamos "muito legal". Se ele for do tipo engraçadinho, que faz piadas, sorria sempre, mesmo que as piadas sejam imbecis e revelem que a idade mental dele é de 8 anos.

3- Hora de comer e beber alguma coisa.

Se vocês vão consumir alguma coisa, não espere que ele vá pagar. Hoje em dia, os homens estão apavorados com a idéia de encontrar uma mulher interesseira, portanto não são generosos ao abrir a carteira. É de bom-tom que você se proponha a pagar a sua parte, só deixe ele pagar se houver muita insistência - mas duvido que ele insista. Se você pedir um chopp e ele um refrigerante, pode apostar que, quando o garçom trouxer o pedido, vai colocar o refrigerante para você e o chopp para ele. Se estiverem na praça de alimentação do shopping e você decidir levantar para comprar alguma coisa, ele vai aproveitar e olhar pra sua bunda.

4- Hora do beijo.

É provável que você não queira beijá-lo, mas mesmo assim vai esperar que ele tente fazê-lo. Se ele não tenta, você acha estranhíssimo, e começa a pensar que ele não te achou atraente. Ás vezes o beijo vem precedido de uma frase do tipo: "posso te beijar?". É óbvio que você deve responder "sim" a essa pergunta. Quando o cara beija mal, você começa a rezar para que o encontro acabe logo; quando ele beija bem, você até tolera mais algumas horas ao lado dele.

5- Hora de ir embora.

Quase sempre, quem observa que já está tarde e que é hora de ir embora é a mulher. É provável que você esteja muito a fim de chegar em casa logo. A hora da despedida deve vir acompanhada de considerações do tipo: "adorei te conhecer" ou "depois vamos marcar outra coisa". Se você estava odiando o encontro, vai sentir um tremendo alívio quando cada um for para o seu lado.

6- Telefonemas e mensagens de texto após o encontro.

Não tem erro: se você odiou o encontro, vai receber telefonemas ou mensagens de texto dele dizendo que adorou e que quer te ver novamente. Se você gostou, o cara some. Mas o mais chocante é descobrir que sua encenação foi perfeita e que ele realmente acreditou que você estava interessada. Agora começa uma nova etapa: fugir, inventando as desculpas mais estapafúrdias, ou encarar o segundo encontro.

7- Sexo e namoro.

Do terceiro encontro em diante, ele vai começar a sugerir que quer sexo. Se , mesmo sem estar a fim, você aceitar, e na semana seguinte a mesma situação se repetir, parabéns: você começou um namoro de mentirinha. Você vai precisar começar a dizer que está com saudades e que gosta muito dele. Logo você vai se surpreender ao dizer "eu te amo", para dar maior veracidade à relação.

8- O fim.

Você não aguenta mais se violentar, tudo que ele diz te irrita. Sua tolerância está no fim e você decide terminar tudo da pior forma possível: pelo MSN. Você sai da relação prometendo que nunca mais vai se submeter a uma situação desse tipo, mas eis que semanas depois você já está garimpando na internet novamente. O ciclo tende a se repetir até que você se apaixone novamente. Aí, tudo muda de figura e este manual perde o sentido.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sonhos traiçoeiros


Qual é o significado dos sonhos? Desejos reprimidos, elaboração do que vivemos no dia, oportunidade do espírito se libertar do corpo ou avisos sobre o futuro? Indiferente a discussões mais profundas, a sabedoria popular se encarregou de interpretar os sonhos, organizando-os em uma lista de “A a Z” e disponibilizando-a em sites ou livros que podem ser adquiridos em qualquer jornaleiro. Algumas pessoas têm o significado dos sonhos na ponta da língua, alguns bem coerentes. Por exemplo, sonhar com cobra representa traição e sonhar com nudez indica que passaremos uma vergonha em breve. Há outras interpretações que não parecem tão evidentes, como aquela que associa o sonho com dente à morte de alguém próximo. Alguns sonhos são traiçoeiros, podendo significar o contrário do que parecem. Toda vez que sonhei com alguma morte e acordei impressionada, alguém me disse: “fica tranqüila, pois sonhar com morte significa saúde”. Quando sonhamos com água, devemos ficar atentos: sonhar com água parada tem um significado, sonhar com água corrente tem outro. Água limpa jorrando é mau sinal, pois significa que muitas lágrimas estão para brotar de nossos olhos. O bom é sonhar com água suja, mas não sei que coisa boa isso pode representar.

No Rio de Janeiro, onde a “bolsa de apostas ilícita” (by Wikipedia) mais popular entre os mais velhos é o jogo do bicho, uma pessoa atenta aos seus sonhos (e aos sonhos dos outros) pode ganhar uma graninha. Minha avó, que sabe tudo sobre esse jogo, sempre se indignava quando eu resolvia contar meus sonhos apenas à noite, pois não dava mais tempo de jogar. Há quem diga que quando sonhamos com alguém que já morreu, devemos fazer uma oração e mandar rezar uma missa na intenção daquela alma, pois ela pode estar pedindo ajuda. Mas para minha avó não era nada disso. Seu vício no jogo do bicho era tão grande que, quando ela sonhava com alguém que já morreu, ia correndo ao bicheiro jogar no número da sepultura da pessoa. Quando sua sogra completou determinados anos de falecimento e o número de sua sepultura não constava no resultado do bicho, ela se lamentou: “Dona Maria não serve nem pra me dar uma sorte!”

Minha avó sabia reverter
qualquer sonho em palpite de jogo do bicho, mas apenas um ficou na minha memória: sonhar com noiva é pavão. Uma vez, sonhei com várias mulheres vestidas de noiva e achei que finalmente tiraria alguma grana dos bicheiros, que já haviam me levado uma boa quantia. Como eu precisava pegar o metrô, resolvi aproveitar e fazer uma fezinha. Mas nesse dia encontrei meu irmão na rua e, para o meu azar, ele estava gentil e me ofereceu uma carona, o que me tirou da rota do bicheiro. Pois bem, acabei não jogando, e à noite descobri que havia dado pavão na cabeça. Depois disso, desanimei totalmente e desisti de jogar.

O costume popular de enxergar nos sonhos palpites para o jogo do bicho foi registrado pelo samba carioca no carnaval de 1976. A relação entre bicheiros e escolas de samba não é segredo para ninguém, ma
s como se trata de um jogo ilegal, é surpreendente que a Beija-Flor de Nilópolis tenha tido a coragem de usar este tema como enredo. Intitulado “Sonhar com rei dá leão”, o samba dizia assim:

[...] Quando o Barão de Drummond criou
Um jardim repleto de animais

Então lançou

Um sorteio popular

E para ganhar

Vinte mil réis com dez tostões

O povo começou a imaginar

Buscando no belo reino dos sonhos

Inspiração para um dia acertar


Sonhar com filharada é o coelhinho
Com gente teimosa, na cabeça dá burrinho

E com rapaz todo enfeitado
O resultado pessoal...
É pavão ou é veado


Como se vê, a cultura popular não dá
a menor bola para o politicamente correto e se encarregou de dar aos sonhos alguma utilidade, revertendo-os em uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil. Mas nem sempre os sonhos jogam a nosso favor. Eu e minha amiga Camila somos um ótimo exemplo disso.

Dia 2 de maio de 2009 deveria ter sido uma data comemorativa, pois completei dois meses sem ter qualquer contato com Alan. Em contagem regressiva para a comemoração, combinei de sair com a Camila para tomar um chopp, como forma de celebrar meu feito inédito. Mas qual não foi minha surpresa quando dois dias antes da data eu voltei a sonhar com Alan. No primeiro sonho, ele não estava presente,
mas eu decidia escrever-lhe um bilhete dizendo que sentia saudades. O problema é que eu tentava escrever e não conseguia, o papel era inadequado, a letra saía estranha e eu cometia erros de português grosseiros. Vendo-me forçada a reescrever o bilhete várias vezes, acabei abandonando meu objetivo. O significado deste sonho me pareceu claro: qualquer tentativa de voltar a me comunicar com ele será infrutífera. Na noite seguinte, mais um sonho, mas desta vez ele estava presente. Nós ficávamos cara-a-cara, ele não se mostrava feliz em me ver e dizia coisas irônicas, que eu não conseguia entender. Além disso, meu armário do trabalho estava cheio de coisas dele, todas velhas e inúteis. O significado foi mais claro ainda: nenhuma tentativa de contato valerá a pena, pois ele só tem a dizer coisas que vão me magoar. Além disso, os objetos velhos e inúteis que aparecem no meu armário representam o espaço que ele ainda ocupa na minha lembrança, espaço que poderia estar sendo preenchido com coisas de melhor serventia. Ou seja, já passou da hora de varrer o Alan da minha memória.

Se meus sonhos indicaram que eu tomei o caminho certo ao decidir cortar qualquer tipo de contato com Alan, por q
ue considerei que meu subconsciente não jogou a meu favor? A resposta é simples: estes sonhos acabaram reavivando lembranças. Assim, no dia 2 de maio eu não estava feliz com a minha conquista, e sim com saudades daquele lixo humano. Fui tomar um chopp com a Camila – na verdade, três - mas falei do Alan o tempo todo. Fui embora dizendo: “acho que não vou conseguir completar três meses sem falar com ele”. Camila concordou, com as seguintes palavras: “pelo menos você tentou”. Foi triste perceber que nem minha amiga levava mais fé em mim.

Felizmente, meu momento de fraqueza
não resultou em nenhum email ou telefonema. Comecei a dizer para mim mesma: “não adianta sonhar com coisas desse tipo, pois o efeito está sendo o contrário”. Situação paradoxal, pois ao tentar me avisar que eu não deveria me aproximar do Alan, meus sonhos quase causaram uma tentativa de reaproximação da minha parte. Não sei se podemos controlar nosso subconsciente, mas o fato é que não voltei a ter sonhos que me despertassem esse tipo de reação. Desde esse dia, só voltei a sonhar com ele uma vez, mas ele estava morto e eu ia comprar uma vela para rezar por sua alma. No entanto, quando chegava à loja, mudava de idéia, e comprava uma vela para rezar pela saúde do meu pai, que de fato estava ficando doente. Será que, simbolicamente, Alan finalmente morreu? Tudo indica que sim.

Parece até enredo ficcional, mas juro que na semana seguinte a Camila passou por uma situação semelhante. Seu ex-namorado, que ela diz não amar mais, mas que até as pedrinhas da rua sabem que ela ainda ama, está viajando e vai ficar ausente por um mês. Apesar disso, ela não estava triste e sequer o citava em nossas conversas. Mas eis que certa noite ele aparece em seus sonhos, voltando de viagem com uma namorada belíssima. Isso foi o suficiente para que a Camila percebesse que ainda sentia ciúmes, e a partir deste dia ela voltou a pensar nele e a investigar seu orkut. Neste caso, não há nem como dizer que o subconsciente tentou jogar a favor dela, o que houve foi simplesmente um boicote. Na noite seguinte, outro sonho: ele estava numa praça de Paris fumando maconha.

Não acredito que todo sonho tenha um sentido específico, mas os sonhos que descrevi acima são significativos demais para serem ignorados, ainda mais se considerarmos que nem eu nem Camila fomos dormir pensando nas pessoas que apareceram neles. Para mim, os sonhos representaram a confirmação de que eu devo me manter firme no objetivo de nunca mais falar com meu ex. Para a Camila, as coisas ainda estão meio confusas, talvez porque ela ainda não tenha decidido se vai esquecer o ex-namorado ou lutar por ele. Ao sonhar que ele estava de namorada nova, não creio que ela tenha sido avisada de que ele em breve terá um novo relacionamento, acredito que seja apenas a projeção de um medo que ela tem. Já o fato dele não ser usuário de drogas, mas aparecer fumando maconha, representa suas variações de comportamento, que nada ficam devendo às alterações de consciência causadas pelas drogas. Se apesar disso a Camila vai insistir na relação, por enquanto é algo que ela vai ter que decidir acordada. Ou quem sabe, ficando atenta aos próximos sonhos, ela descubra qual é o caminho mais apropriado a seguir.



Pesquisa Google sugere a relação entre sonhos e jogo do bicho; sonhar com cobra deve ser comum, vide que é o único sonho citado explicitamente.

domingo, 3 de maio de 2009

Coisas que precisam ser ditas

O relacionamento já não vai tão bem, mas nenhum dos dois parece disposto a terminar. Talvez seja só uma crise passageira, quem sabe na semana que vem tudo volte a ser como antes. Então, é preciso manter os hábitos e continuar dizendo as mesmas frases, para que o outro não cisme de discutir a relação. É preciso também manter aquele caso debaixo dos panos, afinal, não dá pra ter certeza se vai pra frente. E, bem naquele momento em que você está pensando em qualquer coisa, menos no namorado, ele diz: “Amor, te amo. Quero ficar com você pra sempre.” Não, você não quer nem pensar em mais um mês de namoro, quanto mais em relacionamento eterno. Mas, sejamos razoáveis, dá pra dizer isso? Diante daquele “eu te amo”, só resta dizer: “também te amo, amor”.

A verdade é que há coisas que precisam ser ditas em relacionamentos, mesmo que não sejam sinceras. Em namoros longos, essas coisas são ditas por hábito, de forma automática, assim como é automático aquele beijo que se dá para cumprimentar o namorado quando ele chega na sua casa. Em relacionamentos inventados de última hora apenas para preencher o vazio que outro deixou, elas são ditas para dar maior veracidade a um namoro que você sabe que é de mentirinha, mas que o outro precisa estar convencido de que não é.

Sempre me choquei com a prontidão com que o Mauro acatava como verdadeiras minhas demonstrações de carinho. Todas muito falsas, mas para ele não pareciam artificiais. Eu dizia sentir saudades, quando na verdade não havia pensado nele nenhuma vez sequer. Eu dizia que ele era importante pra mim, mas a verdade é que se ele sumisse da face da Terra, não me faria a menor falta. Mas eu precisava dizer essas coisas, talvez por desejar que se tornassem verdadeiras de fato, e também para não ficar tão óbvio que eu só estava fazendo uso de sua companhia para tentar esquecer outro, que sob todos os aspectos era mil vezes mais interessante que ele.

Certa vez eu e Mauro andávamos pelo shopping observando roupas masculinas. A cada casaco bonito que eu via, perguntava se ele tinha gostado. Interessante que eu meu preocupe tanto com o gosto dos outros para se vestir, quando na verdade me visto com tanta simplicidade que quase beira o desleixo. O gosto do Mauro não era estranho, mas ele abominava qualquer tipo de detalhe em roupas e gostava de camisas pólo azuis, que o deixavam com cara de estar sempre uniformizado. Mauro não gostou de nenhum casaco que eu apontei. Como eu sabia que sua irmã costumava entender seu gosto e presenteá-lo com roupas, eu comentei: “é, pelo jeito só sua irmã para comprar roupa pra você”. Qual não foi a minha surpresa quando ele rebateu da seguinte maneira; “ih, senti um certo ciúme nesse comentário!” Fiquei chocadíssima e pensei: “como alguém pode ter uma percepção tão errada da realidade?” Mas isso ficou só no meu pensamento, dei um sorriso fingindo que de fato estava com ciúme e continuamos nosso divertidíssimo passeio.

O ciúme não existia, mas adquiriu uma veracidade impressionante. Quantas vezes terei eu também percebido a realidade de forma equivocada quando estava com Alan? Tudo me parecia tão verdadeiro, sua empolgação, seus elogios, os “eu te amo” que ele dizia... uma vez escrevi “eu te amo” de lápis no caderno dele e logo em seguida apaguei. Ele pegou uma caneta, escreveu “eu te amo” no meu caderno e disse: “quero ver apagar agora”. Eu ficava absolutamente convencida de que ele me amava, mas hoje vejo que ele precisava dizer aquilo para não ficar tão óbvio que ele só sentia atração física.

Em relacionamentos longos, um fala que ama e o outro finge que acredita, em nome da manutenção da rotina. Em relacionamentos que começam, um fala que ama e o outro até desconfia, mas acaba acreditando, por vontade de que o relacionamento vá pra frente.