sexta-feira, 30 de abril de 2010

Quando a verdade liberta e o vidro se quebra para sempre - Conclusão

[continuação]

Se eu tivesse cronometrado quanto tempo meu ciúme durou, daria no máximo 15 min. Nas conversas seguintes com a Larissa, já parti do pressuposto que o caso dos dois de fato ocorrera e em nenhum momento o ciúme voltou a surgir. Logo percebi que minha nova amiga estava totalmente obcecada, pois não tinha outro assunto que não fosse o Alan e se sentia totalmente estupefata ao perceber que a linda históriade amor que ela pensou estar vivendo não passava de um repeteco da minha. Em dado momento, comecei a evitar o MSN, pois já estava ficando enjoada daquilo tudo. Mas, não adiantava, pois quando abria meu orkut encontrava depoimentos ( daquele tipo que devemos apenas ler sem aceitar) , e nesses depoimentos ela contava: "hoje vi o casal no ponto de ônibus", "hoje ele passou por mim e fingiu que não me viu", "hoje ele invadiu minha rede de amigos, como faço para excluí-lo?", etc ,etc.


Embora nunca tenha admitido o caso deles, a coisa ficou tão evidente que não precisou de confirmação textual: ela tinha um email com nome de homem para conversar com ele e ele tinha um email com o nome de Fellipe para conversar com ela; às vezes, ele conversava comigo e com ela ao mesmo tempo, mas para ela dizia: “Já está a Milena me enchendo a porra do saco”; Larissa sabia das dificuldades de ereção dele, de seus dois empregos, de seu vício em remédios, enfim, tudo que ele compartilhava comigo, compartilhou com ela também. A relação dos dois era íntima demais para não ter rolado nada.

O método de aproximação dos dois seguiu o padrão que ele provavelmente adota com todas as mulheres. Tal padrão consiste em:

1º : Ele se faz de retardado, para que pensemos que ele está tão abalado com a nossa presença que não sabe nem como se aproximar. Comigo, se aproximou pedindo um livro emprestado, cujo título e nome do autor não sabia; com ela, se aproximou do nada para dizer que havia comprado um carro zero.

2º: Depois dessa aproximação inicial intrigante, ele começa a querer compartilhar seus gostos pessoais e grava um CD com suas músicas favoritas para nos dar de presente. Este CD possui um pograma espião e ele passa a controlar tudo que fazemos na internet.

3°: Fase da paixonite delarada. Começam os telefonemas a qualquer hora do dia (na frente da esposa, inclusive), os emails, as declarações de amor, frases imbecis do tipo "acho que temos uma ligação espitirual", as lamentações em relação ao casamento, a solidariedade em relação ao nosso namoro/noivado/casamento infeliz, tudo igualzinho. Eu e Larissa descobrimos que recebemos emails iguais, com o Snoopy, a Dama e o Vagabundo e outros personagens fofos.

4º: O fim. O tempo de duração da paixonite não costuma utrapassar três meses. Primeiro, ele deixa a esposa conhecer a amante e a apresenta como amiga; depois que a esposa fica desconfiada, permite que ela confirme todas as suspeitas, deixando-a descobrir os centenas de telefonemas que ele fez para a amante (devidamente listados na conta do celular), e os milhares de emails ( ele não tem o cuidado de apagar os emails que recebe, por mais comprometedores que sejam, e entrega todo o histórico de bandeja, deixando o email aberto "sem querer"). É aí que a vida da amante vira um inferno, pois longe de ficar com raiva dele, a Lúcia quer é exterminar a amante. É aí também que ele percebe "o quanto ama a Lúcia" e acontece a virada em seu comportamento. Ele some, começa a ignorar a amante e se torna alguém desconhecido, que não é nem a sombra do homem apaixonado de poucas semanas atrás. Enfim, quem deu o azar de cair no papinho desse cara, sai com o emocional em frangalhos.

Larissa e eu chegamos a seguinte conclusão: Alan é um psicopata, que escolhe as vítimas unicamente pensando em desestabilizá-las emocionalmente para testar sua capacidade de despertar paixão nas pessoas. Até o fato dele ter escolhido a Larissa deve ter sido proposital, pois sabia que estávamos no orkut e no msn uma da outra, e o risco de ser descoberto deve ter sido um estímulo e tanto para seu cérebro doentio.

Mas, isso ainda não é tudo. Descobri que EU era o assunto principal dos dois, e nunca consegui entender o porquê, já que a regra clássica entre os homens safados é nunca deixar que uma amante saiba da outra. Alan mostrou alguns de meus emails para Larissa ( sugerindo que eu corria atrás dele sem que ele nada fizesse para estimular isso), mostrou fotos íntimas que eu burramente tirei, revelou o que eu gostava em termos de sexo (e o que eu apenas fantasiava), falou da minha vontade de engravidar e até uma crise de candidíase que eu tive foi assunto entre os dois. Além de verdades, Alan inventou muitos absurdos. Disse que eu usava ecstasy , que a magreza excessiva da esposa se explicava pelas macumbas que eu fazia, que meu marido o chantageava ( sendo que nem namorado eu tinha na época) , que ele foi obrigado a me dar um celular caríssimo e muito dinheiro. Enfim, mentiras e verdades misturadas. Toda vez que Larissa conversava comigo, ela me contava mais um absurdo . E queria a todo custo arquitetar uma vingança na qual eu participasse.

O verdadeiro caráter do Alan, assim revelado na última semana de dezembro, me libertou totalmente de qualquer sentimento que eu pudesse ter por ele. O último contato real que tivemos foi em outubro de 2009 e o último contato virtual foi antes das revelações da Larissa, na noite do dia 26 de dezembro. Depois de tudo que soube, não tive mais vontade de ter nenhum contato, nem mesmo de esculhambá-lo. Simplesmente acabou. Ele ainda tentou provocar uma briga entre nós duas, dizendo para Larissa que eu estava querendo separá-los, e que portanto ela não deveria acreditar em nada que eu falasse. Mas, a essa altura, já estávamos espertas demais para sermos manipuladas. Aos poucos, convenci minha amiga a esquecer a vingança, pois, sendo ele um psicopata, de nada adiantaria cuspir a verdade na cara dele e dizer desaforos, pois psicopatas não sentem culpa. No fundo estaríamos dando a ele o que ele queria, a certeza de que nos abalou profundamente. O melhor seria ignorar.

Hoje, posso dizer que superei totalmente meu passado de amante. Já faz meses que não tenho qualquer contato com Alan, mas é tudo espontâneo, não fico mais contando: “hoje faz 10, hoje faz 20 dias sem ele.” Larissa ainda não superou, ela ainda me procura para conversar sobre ele, ainda sente profunda satisfação quando relembra a feiura da Lúcia, ainda quer "dizer umas verdades para ele" e tenta a todo custo marcar um almoço para me contar mais coisas.Procuro sempre mudar de assunto e tirar a sensação de completa idiota iludida que ela ainda tem. Assim como eu, ela foi vítima de um psicopata que identifica a fragilidade das pessoas para atacar no ponto fraco, descatando-as quando elas não servem mais. [Minha psicóloga discorda, diz que ninguém é vítima, mas deixemos isso em off].

Finalmente, chegou o momento no qual o vidro de fato se quebrou em mil pedaços, sem chance de reparos. Acabou, estou livre! Não que as revelações da Larissa consistissem exatamente em uma novidade inesperada, foi tudo muito compatível com as análises que eu já havia feito do caráter dele, mas parece que a verdade apareceu no momento exato em que eu estava pronta para aceitar.

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