sábado, 22 de agosto de 2009

"Ele não gosta de você!"

"Milena, ele não gosta de você." Quantas vezes Aline me disse essa frase? Uma, talvez duas vezes. Isso foi em 2004, se não me engano. E até hoje não esqueço essas palavras.

Minha amizade com Aline surgiu do nada, na aula de Teoria da Literatura. Eu já fazia faculdade, mas resolvi começar uma segunda, por puro lazer. E assim, auxiliada pelas constantes greves nas universidades públicas, comecei a faculdade de Letras à noite, sem que a jornada dupla jamais me atrapalhasse.

Aline, por alguma dessas razões difíceis de compreender, recusava-se terminantemente a comprar livros de ficção. O professor havia exigido a turma a leitura de "A mentira", de Nelson Rodrigues e eu fiquei radiante, pois naquela época já havia lido alguma coisa de Nelson e jamais tinha ouvido falar no livro "A mentira". Comprei o livro, li com rapidez, reli e sublinhei várias passagens. Era a primeira aula que Aline assistia e, mesmo sem nunca ter me visto, puxou assunto e pediu meu livro emprestado.. Esquecendo completamente a máxima que diz que "quando alguém empresta umlivro há dois idiotas: o que empresta e o que devolve", confiei naquela completa desconhecida. Ela não só me devolveu o livro como ainda pediu ajuda para fazer o trabalho. Daí surgiu uma grande, embora efêmera, amizade. Impossível não amar alguém que te devolve um livro e ainda troca ideias sobre a leitura depois.

Embora eu estivesse totalmente desgostosa da faculdade que fazia de manhã, sempre tive a certeza que não seguiria nenhuma carreira relacionada a Letras. De manhã, eu frequentava as aulas com uma preguiça impressionante, chegava atrasadíssima sem cerimônia nenhuma, em certo período cheguei ao cúmulo de fazer apenas 3 matérias, obtendo um rendimento medíocre. Ainda assim, não estaca disposta a largar esse curso que tanto me aborrecia. A faculdade de Letras era lazer, a outra era obrigação. Como para compensar o balde que eu não tinha coragem de chutar de manhã, chutei o balde à noite: fiz um período apenas e larguei a faculdade de Letras, sem nem me dar ao trabalho de trancar a matrícula. Depois, me arrependi, e com uma facilidade impressionante, quase sem burocracia, reabri a matrícula. Reencontrei a Aline no corredor e a amizade foi reatada prontamente, embora não fizéssemos mais matérias juntas. Já as outras pessoas, que antes eram do meu gripo, tornaram-se completas desconhecidas. Fiz mais um período, comecei o terceiro e sumi novamente. A amizade com Aline acabou ali, apesar de alguns telefonemas meus que ela jamais retornou. Desisti de tentar contato, mas sinto muito sua falta.

Certa vez, ocorre a tragédia: André termina tudo comigo. E por um daqueles motivos que seria preferível não saber: se apaixonara por outra. Eu, que sequer havia percebido qualquer mudança em seu comportamento, fiquei abaladíssima. Tanta dedicação para nada! Quantas vezes deixei de lado minhasobrigações para ajudá-lo a estudar para o vestibular, quanto do meu tempo empreguei procurando questões de todas as disciplinas para ajudá-lo! Mas, como veio o fracasso, meu esforço foi facilmente esquecido. O desempenho dele foi tão pífio que nem na faculdade particular mais vagabunda ele poderia entrar. "Me deidquei tanto para levar um pé na bunda", era só o que eu conseguia pensar. Hoje, entendo perfeitamente a situação, ela não era obrigado a ficar comigo apenas por gratidão.

Mas, naquela época, tudo que eu não consegui ser foi uma pessoa centrada. Bolava as estratégias mais absurdas para André voltar comigo. Como a menina pela qual ele estava apaixonado o dispensou sem dó nem piedade, achei que era questão de tempo voltarmos a namorar. Mas tudo que eu conseguia com minhas tentativas de reaproximação era irritá-lo. E foi no momento em que descrevi uma das grosserias de André que Aline disse: "Milena, ele não gosta de você!"

Do alto de sua autoridade de quem vivia um namoro feliz e sem sobressaltos, Aline estava certíssima. André reatou comigo depois de alguns meses e, passada a euforia inicial, eu mesma fui aos poucos percebendo que nada tínhamos a verum com o outro. Depois de dois anos eu mesma terminei, sem que ele esboçasse qualquer protesto. Hoje, não resta qualquer tipo de afeição entre nós, nem amizade.

Se Aline ainda fosse minha amiga, o que ela diria sobre Alan? A mesmíssima coisa que dizia sobre André: "Milena, ele não gosta de você". Cada vez que Alan apronta das suas, só consigo me lembrar dessa frase. Talvez, com uma correção: "Milena, ele não gosta de você e tão pouco você dele. O que existe é obsessão. Você não aceita é ser rejeitada."

Um comentário:

  1. Aaah!Livros são sagrados!!por favor, não me apavore com essa insinuação de pessoas(monstros!) que não devolvem livros!Empresto os meus com o coração na mão!Huaheue até quando empresto pra minha mãe..tenho que ordenar que ela leia só em casa!Pq ela ama livros...mas não cuida mto bem deles!aheuhaaeu

    Tem frases que realmente cravam em nós né?É terrível, parece aquela cicatriz que arde de vez em quando e te lembra da chicotada!
    A última que me lembro é recente. Da última vez que falei com Arthur perguntei com todas as letras depois de uma longa explicação dele do pq ele não consegue vir me ver: "Eu nunca vou te ver?",ele tentou contornar com um "No momento em que me encontro, não", mas o obriguei a não enrolar e esquecer o 'nunca diga nunca' e a me dar um grande e sólido "Não" às vezes eu preciso de uma pedrada dessa na cabeça pra continuar sem olhar pra trás...

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